quarta-feira, 5 de junho de 2013

ESTRANHO



Não é que eu vou entrar na tua presença, pois não dá para entrar em um lugar de onde nunca se sai. Mas, simplesmente vou te perceber, como quando a gente sai de si mesmo, olha para alguém e diz: “Ah, você está aí? Não tinha notado.” Então, vou te chamar para uma conversa. Estranho. É o Senhor quem me chama. Respondo ao teu convite puxando uma cadeira para sentar-me para um bate-papo. Estranho, de novo. Como assim, “bate-papo”? O Senhor não fica na superfície. Pensei que seria uma conversa “olho no olho”. Não demora muito para que os meus olhos lentamente se desviem para baixo devido à diferença gritante entre o teu olhar e o meu. O Senhor me faz chorar, me faz lembrar quem sou e quem deveria ser. E isso dói. É, de longe, como sentir saudades de um lugar onde nunca se esteve. Estranho. Não é que o Senhor me faça chorar, apenas me traz de volta ao centro da minha vida, como um médico faz ao colocar um ombro deslocado no lugar onde deveria estar. E isso dói e faz chorar.

Passado o momento desagradável, começo a sentir alivio. “Saio” feliz para viver o meu dia. Mas, o Senhor não sai. Fica. O tempo todo está me observando. E eu me esqueço rápido daquele momento em que olhei nos teus olhos, abaixei meu olhar e me entreguei às tuas mãos. Mas, o Senhor não esquece. Passa o dia em atitude tão discreta que eu nem chego a notar. Estranho. Se eu não quiser sentir a força desse olhar, o Senhor fica assim, a uma distância suficiente para não me constranger. Como alguém que está em toda parte pode manter distância de quem quer que seja? Não sei. Só sei que preciso parar tudo de novo. Puxar a cadeira e me sentar. Olhar nos teus olhos sem poder sustentar por muito tempo. Entregar-me novamente aos teus cuidados. Dia após dia. Até que o teu Espírito sinta-se em casa e eu aprenda a perceber-te nas mínimas coisas. Estranho. Só assim me sinto em casa.

 ©2013 Roselena Landenberger

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