Não é que
eu vou entrar na tua presença, pois não dá para entrar em um lugar de onde
nunca se sai. Mas, simplesmente vou te perceber, como quando a gente sai de si
mesmo, olha para alguém e diz: “Ah, você está aí? Não tinha notado.” Então, vou te
chamar para uma conversa. Estranho. É o Senhor quem me chama. Respondo ao teu
convite puxando uma cadeira para sentar-me para um bate-papo. Estranho, de
novo. Como assim, “bate-papo”? O Senhor não fica na superfície. Pensei que
seria uma conversa “olho no olho”. Não demora muito para que os meus olhos
lentamente se desviem para baixo devido à diferença gritante entre o
teu olhar e o meu. O Senhor me faz chorar, me faz lembrar quem sou e quem deveria
ser. E isso dói. É, de longe, como sentir saudades de um lugar onde nunca se
esteve. Estranho. Não é que o Senhor me faça chorar, apenas me traz de volta ao
centro da minha vida, como um médico faz ao colocar um ombro deslocado no lugar
onde deveria estar. E isso dói e faz chorar.
Passado o
momento desagradável, começo a sentir alivio. “Saio” feliz para viver o meu
dia. Mas, o Senhor não sai. Fica. O tempo todo está me observando. E eu me esqueço
rápido daquele momento em que olhei nos teus olhos, abaixei meu olhar e me
entreguei às tuas mãos. Mas, o Senhor não esquece. Passa o dia em atitude
tão discreta que eu nem chego a notar. Estranho. Se eu não quiser sentir a
força desse olhar, o Senhor fica assim, a uma distância suficiente para não me constranger. Como alguém que está em toda parte pode manter distância de quem quer
que seja? Não sei. Só sei que preciso parar tudo de novo. Puxar a cadeira e me
sentar. Olhar nos teus olhos sem poder sustentar por muito tempo. Entregar-me
novamente aos teus cuidados. Dia após dia. Até que o teu Espírito sinta-se em
casa e eu aprenda a perceber-te nas mínimas coisas. Estranho. Só assim me sinto
em casa.
©2013 Roselena Landenberger
©2013 Roselena Landenberger
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