Mais um Natal se passou. A vida segue voando. Cada ano é um marco, uma etapa, um capítulo de dias contados. Dias que, na ampulheta do tempo, vão caindo um a um. Nunca sabemos quanto nos resta na parte de cima da ampulheta. Só alcançamos o hoje e o ontem, que vai se juntando aos anteontens, e assim o tempo escoa deixando marcas na gente. Fatos passados ficam cada vez mais distantes na poeira do caminho. Alguns momentos são claros, mas são poucos, em vista dos que se tornam nublados e obscurecidos, para trás da linha do horizonte. E assim corre o fio da vida. Povoado de lembranças e cheio de esperança. A linha do horizonte engole o tempo ao mesmo tempo em que mostra vislumbres do brilho do sol em cores variadas tingindo o céu de beleza, expectativas e sonhos, muitos sonhos...
Se a gente parar de sonhar a vida encolhe, envelhece precocemente, morre antes do tempo. O sonho é um menino levado e sorridente que teima em fazer traquinagens na cabeça de quem sonha, que faz cócegas no coração, que nos cutuca e empurra, tirando-nos da inércia e encorajando-nos montanha acima. Mas, se o menino se nega a crescer e continua a brincadeira indefinidamente, definha. Não amadurece, não dá fruto, não dá em nada. Ser criança eternamente é ser doente, ser gerado sem, contudo, vir à luz. Uma gestação sem fim é um estado angustiante. Prolongadas dores de parto sem dar partida a coisa alguma.
Mas se permitirmos que o menino cresça, à medida que vai se desenvolvendo, abrem-se novos caminhos, novas possibilidades. Sonhos antes nunca sonhados. Mas, para tanto se requer uma boa dose de esforço e dedicação. E é aí que muitos de nós tropeçamos. Nenhum jardim florescerá sem que haja empenho diário e contínuo por parte de quem se propõe a cuidar dele. Em tempos de uma teologia preguiçosa e acomodada, onde decretamos bênçãos em cima de bênçãos, acabamos por achar que o gênio da lâmpada maravilhosa nos concederá todos os nossos desejos assim, de mão beijada. É só pedir, ou melhor, mandar. Triste engano! Sem trabalho árduo e persistente não haverá realização alguma. Não somos senhores, somos servos.
Quando Jesus foi acusado de quebrar uma norma antiga ao trabalhar no sábado, respondeu aos seus acusadores: “Meu Pai trabalha até hoje, e eu também”. Jesus, aquele por meio do qual foram criadas todas as coisas, não ficou esperando em muda contemplação até que as coisas caíssem do céu. Não ficou sonhando com o Reino de Deus. Nem decretou coisa alguma. Ele simplesmente fez o que tinha que ser feito. Arregaçou as mangas e colocou-se a caminho. Não tinha onde reclinar sua cabeça.
Sabemos que “Deus trabalha no turno da noite”, e que ele providencia o nosso sustento enquanto dormimos, como diz o Salmo 127. Mas não podemos usar isto como pretexto para reclinar a cabeça sobre os nossos sonhos e deixar que permaneçam sonhos pela eternidade adentro. É hora de trabalhar. A nossa parte nem Deus vai fazer.
Roselena Landenberger