Neste Natal o menino Jesus veio me visitar.
Desci as escadas e lá estava ele na minha sala. Seu riso infantil encheu o ambiente de canção e tornou o meu coração menos árido e rabugento. Seu olhar inocente me desmontou e tive de abrir mão de todas as minhas defesas. Suas mãos balançando no ar com seus movimentos desconexos de simplicidade e desapego fizeram-me sentir quão tola sou ao buscar a aprovação e o louvor através do mérito. De repente, diante da minha muda contemplação, toda sem jeito, sem saber o que fazer, ele fez beicinho e começou a chorar bem alto. Fiquei aflita, perdi a prática com crianças pequenas. Faz tanto tempo que tive um bebê entre os braços que já havia esquecido como se faz esse tipo de coisa... ”Meu Deus, o que é que eu faço?”
Tomei-o nos braços e ao sentir o pulsar do meu coração ele foi se acalmando. Subi mansamente os degraus da escada e levei-o para o meu quarto. Coloquei-o num lugar mais protegido e quente. Troquei-lhe as fraldas, alimentei-o e ele dormiu com um sorriso nos lábios. Ao sair, deixei a porta entreaberta, no caso de ele vir a chorar novamente.
Os dias foram se passando e ele gorjeava, chorava, ria, chorava de novo, sujava as fraldas, pedia leite, carinho, colo, atenção, mordiscava os próprios pés, cantarolava, balbuciava. Foram dias calmos, amenos. Nem notei o tempo passar. Nas minhas tarefas habituais quando as coisas não davam certo, parava, respirava fundo e começava outra vez, sem me irritar. Uma estranha e rara longanimidade tomou conta de mim e eu não me reconhecia mais. Uma paz suave e terna me invadiu, sem que eu me desse conta.
Até que, certa noite, antes de me recolher, fui procurá-lo para checar se estava tudo bem. Porém, ele havia desaparecido tão misteriosamente como aparecera. Procurei por todos os cantos, mas sem esperança de encontrá-lo. Desci lentamente os mesmos degraus e sentei-me um tanto atordoada no sofá onde eu o encontrara dias atrás. As luzes da árvore piscavam monotonamente num colorido quase que melancólico. Apoiei a cabeça entre as mãos e, depois de algum tempo em meditação, caí em mim.
Ele sempre estivera comigo.
Ele sempre estivera comigo.
Roselena Landenberger
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