Foto: Raquel Landenberger |
Quando você perceber o som familiar de batidas suaves à sua porta – pois ele sempre está à porta, mas nem sempre é percebido – se você puder percebê-lo, faça o que for possível para minimizar os ruídos de sua alma. Desligue a TV, fique off-line, ative o celular no modo silencioso. Desça o pano sobre os pensamentos que insistem em não sair de cena, faça com que as vozes interiores diminuam o volume gradativamente até o ponto de se calarem. Guarde seus livros na estante, descarte qualquer arma de defesa, desligue o alarme.
Com passos calmos, aproxime-se. Feche os olhos e encoste a orelha na porta para tentar discernir a voz que murmura palavras ao seu coração. Seja lá o que estiver a dizer concentre toda a sua atenção no nível máximo.
Gire a chave, mova a fechadura puxando-a suavemente para que a porta se escancare de leve, ao som de um ranger quase imperceptível e deixe que aos poucos o que é externo se torne interno. Que essa presença inunde sua morada de forma aconchegante, perturbadora e inesperada.
Prepare o ambiente. Estenda sobre a mesa uma toalha de linho branco, ornamentada com bordados cuidadosamente traçados. Retire a melhor louça do armário e arrume-a sobre a toalha juntamente com os talheres de prata e as taças de cristal. Acenda as velas, coloque um arranjo de flores silvestres de diversas cores.
Convide-o para sentar-se à mesa. Sirva-lhe o que você tiver de melhor na despensa. Dê-lhe tempo para falar. Colha as lágrimas que vertem pelas faces do visitante em sua própria taça e beba este líquido amargo. Mastigue lentamente o pão seco que ele trouxe na mochila e aproprie-se deste sofrimento. Olho no olho, sem sombra de condenação nem qualquer tipo de imposição.
Surpreenda-se ao acolher esse hóspede inesperado. Você pensou que fosse Jesus, mas era seu irmão. Você pensou que fosse seu irmão, mas era Jesus.
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